Por: Ane Caroline Janiro
O Psicólogo, assim como qualquer outro profissional, para ser considerado “íntegro” deve basear seu trabalho nos princípios éticos que regem a profissão. No caso da Psicologia (também como é o caso de outras funções), temos o Código de Ética Profissional e nele podemos encontrar basicamente tudo o que é (e o que não é) permitido ao Psicólogo no exercício de seu trabalho.
Porém, além dos princípios presentes no Código de Ética, é necessário que seja aplicado o bom e velho bom senso. Por se tratar de uma profissão que lida especialmente com os conteúdos mais íntimos das pessoas, a maneira como o Psicólogo se comporta dentro e fora do ambiente de trabalho diz (e muito, acredite!) sobre a seriedade do seu trabalho.
Mas como saber então se o Psicólogo que me indicaram (ou que eu mesmo poderei indicar a alguém) leva em conta a ética e o bom senso, sendo confiável no que se propõe a fazer?
É claro que não podemos sair por aí apontando o dedo e classificando um profissional como ético ou não ético. Mas a verdade é que há alguns comportamentos que servem para nos alertar, já que ninguém quer depositar seu tempo, dinheiro e expectativas em alguém em quem não confia.
Temos aqui 6 sinais que podem te fazer desconfiar da integridade de um Psicólogo:
1 – O Psicólogo não lhe explica sobre os objetivos e resultados do trabalho;
O Psicólogo deve informar ao paciente sobre os objetivos que se pretende atingir, quais os pontos que pretende trabalhar com ele e, mesmo que estes objetivos mudem ao longo do processo, ou ainda que surjam novos objetivos, isto deve ser comunicado com clareza ao paciente. Além de informar a ele a finalidade e os resultados de possíveis testes psicológicos a serem aplicados.
2 – O Psicólogo está envolvido em situações que promovem discriminação ou preconceito;
Pode parecer óbvio este item e você vai pensar: “É claro que um Psicólogo sabe que não pode praticar discriminação, preconceito, etc.” Sim, eu também imagino (ou suponho) que todos os Psicólogos são cientes disso. Mas existem muitas situações em que o preconceito aparece de forma velada, camuflada e onde também o Psicólogo aparece envolvido indiretamente, mas conivente com a situação. Um exemplo muito comum é o uso que faz das redes sociais para expressar a sua “opinião pessoal” sobre os fatos. Mesmo que esteja fora de seu ambiente de trabalho, como já foi dito no início, o Psicólogo deve sim tomar cuidado com a sua postura, que irá trabalhar contra ou a favor dele. Como poderei indicar o trabalho de um colega da área, se este expressa opiniões preconceituosas por aí? E neste item relaciono todos os tipos possíveis de preconceito: gênero, idade, classe social, etnia, nível de escolaridade, entre outros.
3 – O Psicólogo tenta usar sua profissão para induzir a determinadas convicções;
O Psicólogo é proibido pelo Código de Ética de usar sua profissão para induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito. Isto não quer dizer que o Psicólogo não pode ter suas próprias opiniões, ter uma religião, ser a favor ou contra determinado candidato político, entre outras coisas, mas não deve tentar se aproveitar de seus conhecimentos psicológicos ou mesmo do exercício da profissão para convencer alguém a pensar como ele neste sentido. Temos aqui algo bem parecido com o item “2”, onde além de seguir as determinações legais, o profissional precisa colocar o bom senso em prática. Aqui novamente entra o cuidado que o Psicólogo deve ter no uso das redes sociais. É bom ficar atento.
4 – O Psicólogo expõe informações sigilosas ou realiza diagnósticos em meios de comunicação;
Informações sigilosas são sigilosas (mesmo!) e, portanto, se o Psicólogo as divulga publicamente, está cometendo falta grave e pode perder seu Registro Profissional, inclusive. Estas informações sigilosas são procedimentos utilizados com os pacientes e resultados de serviços psicológicos, que se divulgadas em público podem expor pessoas, grupos, organizações, etc. Realizar diagnósticos em meios de comunicação também é falta grave, pois isto deve ser feito no sigilo do setting terapêutico e com base em todo um processo de análise. É lógico que o Psicólogo pode dar entrevistas e dizer sua opinião sobre determinados assuntos, até mesmo como uma forma de disseminar os conhecimentos sobre a Psicologia, mas desconfie quando ver aquele Psicólogo na TV fornecendo um diagnóstico (muitas vezes de alguém que ele sequer atendeu e tem conhecimento suficiente sobre seu histórico).
5 – O Psicólogo divulga vários acontecimentos sobre sua “rotina” profissional, especialmente nas redes sociais;
Não é difícil encontrar publicações em redes sociais, vindas de colegas de profissão, relatando e reclamando de situações como atrasos e faltas de pacientes em sessões, pacientes que pediram para que o valor da sessão fosse renegociado, o paciente que está com o pagamento da sessão atrasado, a mãe ou familiar de um paciente (criança) que teve determinada atitude ou comportamento, dentre outras muitas situações. Daí o colega de profissão pode até achar que tudo bem este tipo de “desabafo”, já que ele não divulgou nome e nenhum outro dado pessoal de seu paciente. Tenho duas observações a fazer neste caso: Primeira (aos Psicólogos) – Nada é perfeito, e o seu trabalho na clínica psicológica também não será. Ocorrerão faltas, atrasos, desistências e muitas outras situações inesperadas. Mas há que se saber lidar com a frustração, faz parte do crescimento profissional e isto ocorre em muitas outras profissões também. Não se sinta único e “premiado” caso isto ocorra com você, lide com isso com maturidade e não compartilhe estes fatos com as redes sociais, compartilhe com o seu supervisor, que irá lhe ajudar a manejar isto com seu paciente. Segunda (a todos) – Não é porque o Psicólogo não divulgou o nome e outros dados sobre seu paciente que ele não o expôs quando fez esse tipo de “declaração”. O Psicólogo é responsável por respeitar seus pacientes dentro e fora do consultório. E mesmo uma falta, um atraso ou qualquer outra atitude do paciente deve ser considerada como parte do processo terapêutico (que é sigiloso).
6 – O Psicólogo não cumpre horários;
Ninguém está livre de ser surpreendido por um congestionamento no trânsito ou qualquer outro imprevisto que o faça chegar atrasado a um compromisso. Caso isto ocorra, o ideal a ser feito é entrar em contato com quem se combinou um compromisso e comunicar o possível atraso, encontrando a melhor forma para reparar a situação (reagendar, por exemplo). Isto vale tanto para o paciente quanto para o Psicólogo. Já falamos aqui que mesmo os atrasos de um paciente devem ser levados em conta no processo de análise terapêutica, mas quando os atrasos tornam-se prática comum entre os Psicólogos, a história é diferente. Também como já foi dito aqui, é dever do Psicólogo respeitar seu paciente, que dispôs de tempo e dinheiro para estar lá, aguardando o início de uma sessão de terapia. Se o Psicólogo sempre se atrasa para chegar ou iniciar as sessões, isto pode ser um indício de falta de comprometimento com o trabalho.
Estas são apenas 6 atitudes que devem ser observadas com cautela e atenção por quem busca ou indica os serviços de um Psicólogo. Cada caso, claro, analisado em seu contexto particular e não sairmos por aí, como já dito no início, definindo o profissional como ético ou não. Se pesquisarmos no Código de Ética Profissional do Psicólogo, podemos ainda encontrar muitas outras recomendações sobre o trabalho destes profissionais.
* Código de Ética Profissional do Psicólogo – disponível em: http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo_etica1.pdf
OBS.: Todo o conteúdo desta e de outras publicações deste site tem função informativa e não terapêutica.
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Sobre a autora:
Ane Caroline Janiro – Psicóloga clínica, idealizadora e editora deste blog.
CRP: 06/119556
Excelente o texto. Serve, com certeza, também para nós profissionais estarmos sempre repensando nossas práticas, nosso fazer ético e nosso olhar mediante práticas que denigrem a Psicologia atualmente, causando uma total resistência àqueles que em algum momento são indicados ou se indicam a procurar um profissional da área.
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Obrigada pelo retorno e contribuição, Telma!
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Achei perfeito Ana, justamente para mim e meus colegas que se formaram recentemente e já podem contextualizar estes pilares que integram de forma legitima a profissão escolhida e complexa a ser exercida na vida.
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Achei fascinante Ana, justamente por ter me formado neste ano, ainda mais ao você contextualizar as leis que integram a profissão escolhida e que deve ser exercida dentro e fora da clínica ou em qualquer espaço que haja presença humana, tal qual Jung, tratar uma alma humana como uma alma humana independente das técnicas e conhecimentos adquiridos e usados.
Gostei das tuas ideias e obrigado!!!
Beijooo;)
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Muito bom! Sou psicóloga e o que me diferencia no meu trabalho clínico, é que priorizo leis e regras para o meu trabalho, para mim é biblico sempre ler o código de ética.
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Estou fazendo terapia e comecei a ficar receoso pois tenho dúvidas sobre a existência ou não de Deus, prefiro viver sem religião, mas minha psicóloga me indica leituras que têm um fundo religioso. Será que ela está tentando me converter?
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Vejo dois problemas ai, a indicação da leitura de fundo religioso já infringe o código de ética do psicólogo. Não podemos fazer isso. O outro problema é que parece que você não está confortável com essa prática dela. Mude de psicólogo!
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Flavio, na minha opinião, quando procuramos um profissional, este deve ser imparcial. Caso isso viesse a acontecer comigo, eu não me importaria em “cortá-lo” após poucas sessões. No meu caso, sou ateu e não iria querer escutar uma opinião religiosa uma vez que procuro uma explicação científica para o meu problema em questão.
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Perfeito. Vou colocar em um quadro e colocar na recepção meu consultorio.
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Parabéns! Ane. Você se atreveu a falar de um tema que, na maioria das vezes as pessoas falam puramente por convicção pessoal ou se apegando em demasia a sua abordagem (principalmente psicanalistas que tendem à ortodoxia). Porém, você o fez com base na ética profissional e nas boas praticas gerais (recomendadas à maioria das abordagens.
Obrigado! http://www.psicologo-sp.com
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Obrigada pelo comentário, Denival! Abraços e volte sempre por aqui!!
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