Por: Psicóloga Ane Caroline Janiro
Cuidados Paliativos são as técnicas adotadas pela equipe de saúde que visam melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares, buscando aliviar a dor e demais sintomas da doença que já não responde aos tratamentos.
“A OMS (2002) reafirma os princípios que regem a atuação da equipe multiprofissional de Cuidados Paliativos: proporcionar alívio da dor e outros sintomas angustiantes; encarar a morte como um processo normal; não apressar, nem adiar a morte; integrar os aspectos psicológicos e espirituais da assistência ao paciente; oferecer um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver tão ativamente quanto possível até a morte; oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença de com seu luto; utilizar uma abordagem de equipe para atender as necessidades dos pacientes e suas famílias; melhorar a qualidade de vida; iniciar o mais precocemente possível o cuidado paliativo, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida (como quimioterapia e radioterapia) e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender situações clínicas estressantes.” (Abalo, 2008; Ferris et al., 2002; Matsumoto, 2009).
A equipe, portanto, que atua com os cuidados paliativos deve ser multidisciplinar (composta por médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais da saúde) e deve estar apta a lidar com as angústias, medos, sofrimentos tanto do paciente quanto da família.
Qual o papel do psicólogo na equipe de cuidados paliativos?
Psicólogos de diversas abordagens trabalham em equipes de cuidados paliativos (psicanálise, psicologia analítica, psicologia social, análise do comportamento e outros) e estas abordagens devem representar um referencial teórico consistente para o profissional.
Nas funções que cabem ao psicólogo no trabalho junto à equipe em cuidados paliativos, relacionam-se especificidades como a orientação, a escuta e o acolhimento dos familiares e do paciente, a compreensão das reações do paciente diante de sua doença e o conceito de morte, a promoção da humanização do ambiente hospitalar, a participação efetiva no trabalho discutido e definido pela equipe, realização de avaliações psicológicas do paciente, avaliação do contexto familiar, entre outros.
Assim, o papel do psicólogo é de extrema importância no trabalho com os cuidados paliativos e, segundo a OMS (2007), este deve auxiliar a família neste momento, prestar apoio inclusive durante a progressão da doença e, caso o paciente esteja próximo da morte, trabalhar com a família o processo de luto, de forma que ela possa falar e compreender seus sentimentos e este momento possa ser suportado de forma mais amena. O familiar deve se sentir incluído no diagnóstico, conhecendo as medidas adotadas como paliativas, assim como o próprio paciente. Os momentos de choro devem ser respeitados e acolhidos como parte do processo de aceitação e elaboração do luto.
É fundamental que o profissional forneça uma escuta ativa ao paciente e aos familiares. Conhecer sua história de vida também é muito importante e permitir que o paciente reviva determinadas situações positivas, elabore certos significados e consiga falar e se tornar consciente de seus sentimentos.
É claro que a atuação do psicólogo nos cuidados paliativos deve se apresentar também de forma criativa, utilizando-se dos recursos necessários para trabalhar o alívio do sofrimento do paciente e seus familiares, bem como a melhora de sua qualidade de vida.
O psicólogo deve estar atento e atuar ainda diante de demais reações que podem surgir tanto no paciente quanto no(s) cuidador(es) e demais parentes, como negação, raiva, depressão, ansiedade e sinais de outros transtornos psicológicos.
Também é papel do psicólogo fazer a mediação na comunicação entre a equipe multiprofissional e família/paciente, facilitando a compreensão nesta relação.
Vale lembrar que o trabalho do psicólogo em cuidados paliativos não se restringe apenas ao ambiente hospitalar, pois em casos onde o atendimento ao paciente é realizado na modalidade domiciliar, por exemplo, seu papel também é de extrema importância e estará mais próximo ainda da realidade e do contexto familiar do paciente.
Em linhas gerais então, o psicólogo que atua com cuidados paliativos tem o papel de humanizar o atendimento, proporcionar reflexão, acolhimento, aceitação ao tratamento, melhor comunicação entre equipe, família e paciente, melhoria na qualidade de vida, escuta atenta às demandas do paciente e de seus familiares e utilizar-se dos instrumentos e técnicas exclusivos do psicólogo junto à equipe multiprofissional.
Há ainda muitas possibilidades de atuação da psicologia quando falamos em Cuidados Paliativos e este texto teve como objetivo demonstrar sua importância de forma resumida. Para compreender demais aspectos, consulte o também referencial teórico.
Referências:
Abalo, J., Abreu, M., Pérez, C., Roger, M., Méndez, M. C., Pedreira, O., . Arisso, D. (2008). Ansiedad y actitudes ante la muerte: Revisión y caracterización en un grupo heterogéneo de profesionales que se capacita en cuidados paliativos. [electrónica], Pensamiento Psicológico, 4, 27-58. Recuperado em 11 de outubro, 2011, dehttp://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=80111670003
FERREIRA, Ana Paula de Queiroz; LOPES, Leany Queiroz Ferreira; MELO, Mônica Cristina Batista de. O papel do psicólogo na equipe de cuidados paliativos junto ao paciente com câncer*. Rev. SBPH, Rio de Janeiro , v. 14, n. 2, p. 85-98, dez. 2011 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582011000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 fev. 2016.
MELO, Anne Cristine de; VALERO, Fernanda Fernandes; MENEZES, Marina. A intervenção psicológica em cuidados paliativos. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa , v. 14, n. 3, p. 452-469, nov. 2013 . Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862013000300007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 fev. 2016.
Sobre a autora:
Ane Caroline Janiro – Psicóloga clínica, Fundadora e Administradora do Psicologia Acessível.
CRP: 06/119556
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