Dando continuidade ao tema do último texto, vamos falar mais sobre o pai no cenário do puerpério. Quando o homem recebe a notícia da paternidade, o que se passa na sua constituição psíquica?
Então, a mulher gesta seu filho por nove ou dez meses – sofre com dores e enjoos, sente, carrega esse bebê; e o pai? Como muitos brincam, “carregam as malas”, vão buscar o “desejo” estranho da noite… No final, parece que estão sempre nos “bastidores”, enquanto que a protagonista, é a mulher.
O parto chega. Vamos lembrar que há alguns anos, o homem não participava mesmo desse momento. A Lei do Acompanhante é de 13 de julho de 1990, pelo ECA, mas ainda hoje há muitos lugares em que esse direito não é respeitado. Quando é, ele pode estar lá, dando suporte à mulher, suporte psíquico e, em muitos casos, até físico. E aí, começa o puerpério.
Do nascimento até por volta dos seis meses, mãe e bebê são um – isso porque ele, o bebê, ainda não se reconhece como um sozinho, sendo ambos, um a extensão do outro. Isso é lindo! O vínculo “construindo” dessa dupla, dia a dia, é único, não vemos em nenhuma outra situação. Mas, e o pai? Onde está nesses seis meses?
Claro, deve estar ali, construindo também o seu vínculo com seu filho, na sua parceria com a mãe desse bebê. Ser pai.
Ser pai. E o que é isso? Têm-se limites físicos no cuidado com o filho, que só a mulher pode fazer. E, ao contrário da mulher, que ‘treina’ a maternidade desde suas bonecas, não é permitido ainda ao menino que faça o mesmo. E agora? O puerpério bate com força, também, ao homem.
Talvez (e muito provavelmente) por conta de nossa sociedade machista de “homens-macho”, a Depressão Pós-parto Masculina nunca tenha sido comentada como é a feminina. O grande problema suscitado por esse tabu é o cuidado desses pais doentes, que permanecem doentes por desconhecimento. Claro que, frente à história da humanidade, o reconhecimento da importância do papel paterno e das dificuldades de ser pai são extremamente recentes, comparados ao da mãe. Com isso, o homem não reconhece a si como agente importante da perinatalidade e, quando o faz, são poucos os espaços que se têm para cuidar e falar sobre.
A incidência da DPP Masculina é maior entre o terceiro e o sexto mês – nesse período é de 25%, enquanto que no geral é de 10,4%. Esse número aumenta quando a mulher apresenta DPP e, ao contrário também: quando o homem apresenta o quadro, a incidência da depressão na mulher aumenta.
Assim, são frequentes os casos de desorganização familiar e do casal por conta dos sintomas específicos da DPP masculina – atitudes hostis ou impulsivas, acidentes recorrentes, excesso de álcool ou trabalho, relacionamentos extraconjugais. Alguns outros sintomas habituais também aparecem, como desesperança, pessimismo, tristeza profunda, fadiga, dificuldade de concentração, de tomar decisões e de memória, desinteresse para atividades antes prazerosas como o sexo, pensamentos mórbidos ou suicidas, impaciência, irritabilidade, mudanças bruscas de humor, entre outros.
Como dito no artigo sobre “Patologias: um primeiro olhar“: “O importante, tanto nesses casos como nos casos onde há, de fato, luto perinatal, é a observação atenta e o cuidado rápido desses indivíduos. Os personagens de uma cena perinatal estão à flor da pele, vulneráveis, expostos e inseguros. Demandam, assim, atenção e presença de uma rede fiel, que possa acolher e assumir tarefas, em situações graves. Ainda assim, com dificuldades concretas e psíquicas, com ou sem sintomas, são pessoas capazes, que devem ser valorizadas e reconhecidas como tais.”
A rede se faz de extrema importância nesse momento. Quando escutamos casos de DPP, feminina, masculina ou ambas, logo lamentamos pelo bebê. Mas esquecemos que pode existir uma rede, que se coloque como suplente no cuidado desse bebê, dessas crianças. Como mencionei em um artigo anterior, quando há alguém que possa fazer o investimento nesse bebê, ele está a salvo, está cuidado! Então que possamos criar alternativas de cuidados e sustentação àqueles que cuidam.
Imagem: Sempre Família
Referência:
– IACONELLI, Vera. Depressão Pós Parto Masculina. Disponível em: http://www.institutogerar.com.br/artigos/23_ARTIGO_DEPRESS%C3%83O%20POS%20PARTO%20MASCULINA.pdf
Agnes Trama
Psicóloga (CRP 06/118164)
Especialização em Psicologia Perinatal (em formação)
Contato pelo e-mail:
agnestrama@uol.com.br
Facebook: /agnestramapsicologa
Instagram: @agnes.psicologa
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