Por: Psicóloga Ane Caroline Janiro
Em um texto recente, falei um pouco sobre a possibilidade de o Psicólogo realizar atendimentos aos seus familiares ou amigos, discutindo também aquilo que cita o Código de Ética da profissão neste caso. A recomendação aqui, como já discutido, não é bem clara ao proibir ou não o atendimento psicológico a pessoas do círculo de convivência do psicoterapeuta:
“Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
- j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado; ” – Código de Ética Profissional do Psicólogo.
Logo, vemos que se torna subjetiva a avaliação sobre a interferência negativa que pode ter no processo psicoterapêutico a relação do psicólogo com o paciente ou com pessoas ligadas a ele, porém o bom senso do profissional é o que precisa prevalecer. Este bom senso deve prezar pela excelência dos serviços prestados, isto é, o quanto ele conseguirá oferecer um atendimento de qualidade e mantê-lo dessa forma durante todo o processo e também levar em conta sua conduta em relação ao sigilo das informações a respeito do atendimento. (Texto completo: “Por que psicólogo não pode atender a família e os amigos?”).
Agora, dando continuidade a essa reflexão e com base em algumas mensagens que tenho recebido, venho abordar mais algumas questões que envolvem a ética profissional quando falamos em atendimento psicológico.
A primeira delas é ainda sobre a relação do Psicólogo com os pacientes fora do setting terapêutico, isto é, fora do consultório. É permitido que o profissional mantenha uma relação de amizade com seus ex-pacientes? Essa é uma dúvida comum e também podemos tomar como base para discussão a recomendação feita pelo nosso Código de Ética, que não cita um caso como este claramente, mas é possível avaliarmos se esta relação que o psicólogo estabelece com pessoas que já foram atendidas por ele irá interferir de alguma forma no trabalho que foi realizado enquanto psicoterapeuta-paciente. Outro cuidado importante a se considerar é que nesta relação não sejam incorporados aspectos do processo psicoterapêutico, como se a amizade fosse uma extensão do consultório, onde o “ex-paciente” recorra ao amigo psicólogo em busca de “atendimentos informais”. E também o sigilo das informações cedidas ao psicólogo em psicoterapia deve ser mantido e a relação fora do consultório não pode expor o paciente ou ex-paciente em hipótese alguma.
O mesmo vale o atendimento a duas ou mais pessoas da mesma família. O psicólogo deve sempre prezar pela qualidade de seu atendimento e, acima de tudo, por preservar o paciente e agir de forma ética. Qualquer que seja a interferência externa negativa no objetivo daquele atendimento, é um alerta para que se reveja a conduta profissional.
Outra questão acerca da postura ética do Psicólogo durante os atendimentos diz respeito sobre suas crenças e convicções. É certo que o Psicólogo tente convencer o paciente a seguir determinada religião ou a adotar certa convicção política, por exemplo? Vamos ao que rege o Código de Ética:
“Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
- b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais; ” – Código de Ética Profissional do Psicólogo.
Isso não significa que o psicólogo não possa ter suas próprias crenças, ideologias ou convicções políticas. Mas significa que, durante a sua prática profissional, ele não deve induzi-las, fazendo com que a Psicologia seja associada a algum tipo de ideologia, crença ou afins. A Psicologia é uma ciência. É importante, inclusive, que o psicólogo respeite as convicções e escolhas do paciente e de forma alguma tente ‘converter’ ou convencer de determinada filosofia, religião e outras.
Portanto, é claro que o psicólogo, assim como todo profissional, deve observar as condutas éticas no exercício de suas atividades e mais do que seguir as normas estabelecidas por Conselhos e Códigos de conduta, o olhar atento ao bem estar e às necessidades do paciente devem vir em primeiro lugar, sempre prezando, como já dito pela sua segurança, pelo sigilo profissional e pela qualidade do processo psicoterapêutico.
Sobre a autora:
Ane Caroline Janiro – Psicóloga clínica, Fundadora e Administradora do Psicologia Acessível.
CRP: 06/119556
*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.
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Adoro tudo que você posta. Leio tudo, não passa um sem minha leitura. Obrigada
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Olá Maria! É muito bom saber disso!! É realmente motivador saber que você acompanha e gosta desse trabalho que faço com tanto carinho! Seja sempre muitíssimo bem-vinda! Abraço forte!
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