O ato de brincar está presente em todas as culturas e faz parte da constituição do sujeito desde o nascimento. O brincar favorece o crescimento e o desenvolvimento infantil. Sua expressão e evolução são indicativos de saúde, bem como a sua ausência ou limitação são indicadores de que algo da ordem psíquica não vai bem com a criança.
Em um primeiro momento, o bebê brinca com a sua mãe como se esta fosse parte do seu próprio corpo. Donald Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, chamou a mãe de playground do bebê, pois inicialmente, o bebê e a mãe compõem a mesma unidade psíquica, segundo o autor, que considera a mãe suficientemente boa na medida em que consegue adaptar-se às necessidades de seu bebê, incluindo aí a necessidade de brincar (WINNICOT, 1975). Após esse período inicial, o bebê começa a brincar consigo mesmo, com as partes do seu corpo e em seguida com os objetos que escolhe para carregar a todos os lugares (cheirinhos, bicos, bichinhos, entre outros). Esses objetos, chamados de transicionais, se colocam na zona intermediária, na separação entre a mãe e o bebê, ajudando-o a tolerar a angústia de separação e a ausência materna (WINNICOT, 1975). Posteriormente, vem o brincar simbólico, o faz-de-conta e o brincar com o outro.
É nesse processo de brincar que a criança vai construindo a sua personalidade e as suas estratégias de enfrentamento e de solução de problemas. Nesse processo também se encontra a origem da criatividade, segundo alguns autores.
Diante disso, vale a reflexão: Que espaço de brincar estamos propiciando as nossas crianças? Que tempo de brincar estamos proporcionando aos nossos pequenos? Como diz Winnicott (1975) “o brincar é por si só uma terapia”. É através do brincar que as crianças elaboram os seus conflitos, assimilam a realidade e desenvolvem o relacionamento interpessoal, entre outras coisas. Por isso, é muito preocupante quando encontramos crianças que não brincam. Esse é um alerta para pais e educadores: uma criança que não brinca ou que tem restrita a sua capacidade lúdica, é uma criança que não está bem e que precisa de ajuda. Esse também é um dos motivos pelos quais o trabalho psicoterapêutico infantil se desenvolve a partir do brincar. O lúdico e a brincadeira equivalem ao processo de livre-associação do adulto. É através do brincar que o/a psicoterapeuta pode estabelecer as conexões do discurso e da sintomatologia atual com a história da criança na busca da cura.
Quanto mais brinca uma criança, mais possibilidades de saúde ela tem. E se ela não brinca, o nosso papel como psicoterapeutas, pais e educadores é de ajudá-la a brincar. E isso envolve tempo e dedicação, muito mais do que brinquedos, pois quando há um ambiente propício ao brincar, tudo o que está no próprio ambiente serve à brincadeira (uma vassoura pode ser um cavalo, uma colher se transforma numa varinha mágica, um lençol pode ser uma cabana). E por aí vai a fantasia.
O processo lúdico auxilia a criança a crescer, a se desenvolver e a se transformar em um adulto que pode brincar e inventar na faculdade, no ambiente de trabalho e no relacionamento com as outras pessoas.
Referência bibliográfica:
WINNICOTT, D. W. (1975) O Brincar e a Realidade. Trad. J. O. Abreu e V. Nobre. Rio de Janeiro: Imago.
Colunista:
Susana Joaquim Rodrigues
CRP 07/15823
Psicóloga com atuação clínica, especialista em Educação Especial e Inclusiva, membro da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul.
Contatos:
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Brincadeira pra criança é coisa séria!
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Isso mesmo Alda. Abraços e obrigada por deixar seu comentário. Abraços!!
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