Por: Amanda Santos de Oliveira
Quantas vezes nos deparamos com esse conceito. Ainda, muitos de nós passamos por essa situação em nossa infância e adolescência, sem ter a quem recorrer em uma época em que a devida atenção a este fenômeno não era dada. Hoje, nos preocupamos com nossos filhos em uma sociedade que se apresenta intolerante desde o jardim de infância. Para combater adequadamente este tipo de violência é preciso verdadeiramente conhece-la e entender quais as consequências geradas por ela.
O que é?
Segundo discutem Bandeira e Hutz (2010)[1], o bullying é uma subcategoria de agressão e comportamento agressivo e se caracteriza pela repetitividade e assimetria de forças. Portanto, o objetivo de tal comportamento é causar dano físico ou moral em um ou mais estudantes que são mais fracos e incapazes de se defender. Se você já passou por isso em algum momento da vida, tal descrição e lembranças suscitarão na recordação dos sentimentos vividos na ocasião. Se não, faça o exercício agora de tentar imaginar o que pensa e vive alguém que passa por esse tipo de violência. Essa pessoa está sendo repetidamente agredida por pessoas que são mais fortes e querem faze-la sentir-se mal ou machuca-la. Essa pessoa não tem forças suficientes para se defender, portanto, está impotente. Imaginou? Então pense com atenção se essa situação é normal e se deve ser vivida pelo seu filho(a).
Segundo os autores, além das possibilidades físicas (chutes, socos, pontapés, empurrões, roubo ou dano aos pertences, etc.) e verbais (apelidos, insultos, comentários racistas, homofóbicos, de diferenças religiosas, físicas, econômico-sociais, culturais, morais e políticas, etc.), ainda podem aparecer comportamentos mais indiretos, como a exclusão social ou isolamento. Ademais, é necessário lembrar que existe ainda, o bullying eletrônico ou cyberbullying já que tais ataques podem ser expandidos para ambientes eletrônicos, por meio de redes sociais, mensagens de texto, sites, blogs, salas de bate-papo e etc.
Onde e como pode ocorrer?
Conforme apontam Bandeira e Hutz (2010), o bullying é considerado um poderoso controle de processo cultural. Portanto, seu surgimento caracteriza-se em esferas coletivas. Em tal fenômeno social, a violência dos agressores é valorizada através das interações sociais desse grupo. Lembrando que normalmente o agressor tem a intenção de prejudicar ou machucar sua vítima, sem ter sido provocado por ela. Neste contexto, segundo os autores, o agressor geralmente vê a violência como qualidade, sente prazer e satisfação em dominar, controlar e causar danos aos outros e geralmente é mais forte que seu alvo.
Portanto, fica fácil delimitar os locais em que tal fenômeno pode ocorrer: em quaisquer ambientes coletivos. Isso porque, em quaisquer grupos haverá diferenças, portanto, haverão aqueles sujeitos mais fortes e aqueles mais fracos. Se tais interações reforçarem a violência, ela pode facilmente ocorrer.
A vítima
A vítima será aquela repetidamente exposta a tal agressividade. Segundo os autores, tais vítimas geralmente apresentam um comportamento social inibido, passivo ou submisso. Os autores apontam ainda que ser acometido a este tipo de violência, pode suscitar sentimentos de vulnerabilidade, medo ou vergonha intensos, além de uma autoestima cada vez mais baixa, o que aumenta a probabilidade da continuidade da vitimização. Além disso, Bandeira e Hutz (2010) apontam que tais vítimas possuem até três vezes mais chances de sofrer com dores de cabeça e dores abdominais e até cinco vezes mais chances de experimentar enurese noturna (perda involuntária de urina durante o sono).
Existem ainda, segundo os autores, aqueles que se caracterizam tanto como vítimas quanto agressores. Tais crianças, provavelmente, apresentam baixa autoestima, atitudes agressivas e provocativas, além de prováveis alterações psicológicas. Além disso, podem ser depressivas, ansiosas, inseguras e inoportunas, por isso, podem importunar seus colegas para esconder suas próprias limitações.
Consequências da Violência
Segundo Lisboa et. al (2009)[2] houve uma mudança considerável na maneira de encarar o bullying e hoje, pesquisadores passam a encarar o fenômeno não mais como corriqueiro, normal e inofensivo, mas como um processo que merece cuidado, observação e investigação. Isso porque implica em graves consequências emocionais e cognitivas para os envolvidos.
Normalmente, segundo apresentam os autores, as consequências físicas são as formas que mais chamam atenção, por serem evidentes e explicitas e por muitas vezes serem consideradas mais graves e imediatas. No entanto, estudos atestam e concluem que marcas psicológicas deixadas podem ser determinantes para o estabelecimento de uma baixa autoestima e influenciam negativamente no desenvolvimento e constituição da personalidade dessas crianças. Ainda, mais estudos mostram que a vitimização e rejeição têm sido correlacionadas com comportamento antissocial, problemas acadêmicos e evasão escolar. Tais dificuldades de aceitação podem ainda provocar problemas de ajustamento durante o desenvolvimento de todo ciclo vital e, especificamente, problemas de aprendizagem e socialização escolar.
Como evitar?
Diante de tantos riscos trazidos pelo bullying como é possível prevenir tal violência dentro de casa? Primeiramente, esteja atento aos sinais que podem estar relacionados à violência física (marcas no corpo, manchas, arranhões, etc.) ou possíveis comportamentos de inibição, vergonha ou medo. Não subestime tal violência, participe ativamente da educação de seus filhos, contate a escola, pergunte, indague, esteja presente. Não mantenha uma postura passiva diante das situações que seus filhos podem estar vivendo na escola.
Mas, olhando de forma mais ampla, lembre-se que o primeiro ambiente de socialização e educação dos filhos é a família. Que tipo de educação você está provendo? Uma educação inclusiva e que transmite respeito ou uma educação intolerante, racista, homofóbica e cheia de preconceitos? Tenha muito cuidado com os valores, comentários e brincadeiras que surgem em sua casa ou você pode estar criando um agressor do futuro.
Referências:
[1] BANDEIRA, Cláudia de Morais; HUTZ, Claudio Simon. As implicações na auto-estima de adolescentes. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional , SP. Volume 14, Número 1, Janeiro/Junho de 2010: 131-138. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pee/v14n1/v14n1a14>. Acesso em 14 de nov. de 2016.
[2] LISBOA, Carolina; BRAGA, Luiza de Lima; EBERT, Guilherme. O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade: definições, formas de manifestação e possibilidades de intervenção. Contextos Clínic, São Leopoldo , v. 2, n. 1, p. 59-71, jun. 2009 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-34822009000100007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 14 nov. 2016.
Imagem: Pinterest
Colunista:
Amanda Santos de Oliveira
CRP 04/43829
Psicóloga Graduada pela PUC Minas, atuante na área clínica em Belo Horizonte, oferecendo psicoterapia individual para adultos
Contatos:
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