Por: Mariana Santos
Um dia assistindo ao documentário “Sou Surda* e não sabia”, parei para observar um pouco da dinâmica da criança surda dentro de uma família ouvinte. A gestação é um momento em que a família cria muitas expectativas sobre o sexo do bebê, sobre suas características, se nascerá saudável, entre outros… Mas o que acontece quando seu filho(a) nasce e você descobre que ele é uma criança surda?
Após esta descoberta os pais passam pelo processo de luto, pois as expectativas que criaram sobre o bebê não foram correspondidas. Além disso, poucas famílias têm conhecimento a respeito da surdez e acabam não sabendo como lidar com ela.
Quando a criança realiza os exames e constatam que é surda, os profissionais da saúde instantaneamente trazem aos pais ferramentas de como “eliminar” a surdez. E apresentam os caminhos para oralizar a criança surda e assim deixá-la “normal”. E muitas vezes pela carga emocional e até pela falta de conhecimento com relação à surdez, os pais seguem as orientações sem encontrar outras alternativas.
Nenhuma criança vem com manual de instruções que mostre como devemos proceder. Como com qualquer outra criança cabe a cada família avaliar o caminho que deseja seguir. Porém, gostaria de compartilhar um pouco sobre o que tenho observado na maioria das dinâmicas familiares entre criança surda e família ouvinte e assim deixar mais uma opção para que os pais decidam como querem seguir.
Com a tentativa de que a criança seja “normal”, muitas famílias acabam fazendo com que ela se adapte à dinâmica familiar, em poucos casos ocorre o contrário, a família se adaptar à criança. Assim, por vezes as crianças são submetidas a oralização, leitura labial, sem nenhum contato com a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), passam por cirurgias, entre outros procedimentos, porém acabam não se integrando aos ouvintes, nem conhecendo a comunidade Surda. Muitas vezes, essas crianças não conseguem se integrar à própria família, pois em um almoço de domingo por exemplo, compreende pouco do que está sendo dito.
Mas como a família poderia se adaptar à criança? Um alternativa, que considero muito enriquecedora para a família e para criança, é conhecer a comunidade Surda e a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Assim, a criança passa a ter referências de pessoas Surdas e assim sentir que também pode fazer suas conquistas.
Tornar-se pai e mãe não é uma tarefa fácil, quando a criança nasce há a necessidade dos pais de se adaptarem ao bebê, sendo ele surdo ou não. Porém a surdez não pode ser encarada como um fator limitante, mas sim como uma característica. Em alguns casos, os pais precisam de uma orientação psicológica de um profissional que compreenda a surdez e a cultura Surda, a fim de auxilia-los a lidar no cuidado com a criança.
* Utilizo no texto a palavra “surdo” para distinguir do termo “deficiente auditivo”, ao contrário do que se imagina o termo não é pejorativo e identifica a pessoa que possui uma surdez profunda, sendo o termo “deficiente auditivo” direcionado às pessoas com surdez leve a moderada. Também utilizo “Surdo” com “S” maiúsculo para identificar a pessoa Surda inserida na comunidade Surda que compartilha de valores, história, língua e cultura.
Mariana Santos
CRP 06/126116
Psicóloga clínica bilíngue, atendimento em Português e Língua Brasileira de Sinais.
Graduada em Psicologia pela UNIP.
Atende na Chácara Santo Antônio (Z/S) e próximo ao metrô Tatuapé (Z/L) – São Paulo
Contatos:
Fone: (11) 95490-5944
E-mail: marianasantos.psico@gmail.com
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Ótima abordagem. Gostaria de perguntar de como é feita a psicoterapia com os surdos e onde eles podem procurar atendimento especializado na rede pública. Obrigada.
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Olá Cristileine. Infelismente há poucos psicólogos com conhecimento em LIBRAS no consultório particular, na rede publica não é diferente. Aqui em São Paulo, temos a clinica da Derdic, que no curso de especialização, oferecem atendimento a comunidade surda.
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Obrigada o retorno. Procuro para o interior do estado de São Paulo, o que imagino ser agulha no palheiro…
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